A fábrica pertencia a João Batista de Medeiros, conhecido como João de GAM, primo do Desembargador Lourival de Medeiros.
Severino, não podendo pagar a um dentista e como era adversário político do CD Jácio Fiúza, resolveu, fazer ele próprio sua prótese.
Inicialmente, fez a moldagem da boca com sabão da fábrica onde trabalhava e vazou o modelo em cimento preto para construção.
Conseguiu uma bola de bilhar inservível para o jogo e abriu-a no meio.
Usando um dos hemisférios, começou a esculpir à noite olhando cuidadosamente a dentadura da sogra, que, para tal, lha emprestava.
As ferramentas usadas eram apenas um canivete, uma lima triangular velha e lixa.
Quando a prótese já estava quase pronta, ocorreu uma fratura e ele teve que recomeçar tudo, agora usando o outro hemisfério da antiga bola de bilhar.
Tomando mais cuidado, especialmente no final para evitar nova fratura conseguiu terminar. No final, observou que havia esculpido 5 (cinco) incisivos, mas deixou assim mesmo.
Severino usou a prótese por doze anos seguidos e estava muito satisfeito.
De passagem por Santa Cruz com destino a Caicó, o CD Clemente Galvão Neto e seu irmão Luiz Carlos Abbott Galvão, então protético do Laboratório Galvão e seu gerente, aconteceu avariar-se o jipe, em que viajavam.
Para esperar o conserto do veículo, hospedaram-se todos na casa do então Deputado Federal Aluízio Bezerra.
Quando Jácio visitou o grupo, contou a história da dentadura de bola de bilhar, o que despertou enorme curiosidade. Severino “Marreteiro” foi chamado e examinado.
Então, Clemente fez-lhe a proposta:
Seria confeccionada para Severino uma dentadura dupla moderna, fornecida pelo laboratório Galvão e clinicamente executada por Jácio. Severino relutou e terminou acertando o negócio, quando entregaria sua prótese em troca de outra dupla.
Foi tudo providenciado imediatamente e concluída a dentadura dupla, totalmente sem ônus para Severino, com a colaboração de Jácio e as despesas da confecção patrocinadas pelo Laboratório Galvão.
Pronta a prótese, depois de diversas provas, chegou o dia de sua colocação e, conseqüentemente, entrega da antiga.
Tudo concluído e verificados o funcionamento e a estética, Jácio recordou o negócio acertado muitos dias antes.
Severino, meio desconfiado, pensou muito e finalmente disse:
“Vou entregar porque dei a minha palavra e não volto atrás, mas, sinceramente, a minha é melhor”.
Entregou a peça, que já andou mundo, foi filmada e fotografada. Passaram-se anos sem que soubéssemos onde se encontrava, pois Solon Galvão Filho, que fora professor de Prótese da UFRN, e que a tivera sob sua guarda, pensava tê-la deixado na Suécia.
Clemente queixou-se disso a Helson José de Paiva, professor de Oclusão da UFRN, quando este anunciou:
Está comigo e vou entregá-la agora mesmo para o Museu Solon de Miranda Galvão.
Hoje, pois, a Dentadura feita de uma bola de bilhar nas condições descritas, é, com certeza, raríssima e quem sabe, a única na história da Odontologia. Pertencente ao acervo do Museu de Odontologia Solon de Miranda Galvão, da Academia Norte-Rio-Grandense de Odontologia, como uma de suas peças mais valiosas.
CLEMENTE GALVÃO NETO, CD
DIRETOR
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